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sexta-feira, 9 de julho de 2010

RESENHA "A CABANA"


Um dos mais recentes Best-sellers, A cabana traz como tema central o sofrimento de um pai que tem sua filha brutalmente assassinada em uma cabana. Após três anos de sofrimento, o personagem principal, Mack, recebe um bilhete, supostamente de Deus, convidando-o a voltar à cabana onde tudo aconteceu.


Mack vai até o local e acaba vivenciando uma experiência que iria mudar radicalmente seu modo de se relacionar com a vida. Na cabana, ele encontra Deus personificado no corpo de uma mulher grande e negra, Jesus como um judeu vestido de carpinteiro moderno e o espírito santo como uma mulher asiática.


O livro toca em pontos importantes como a questão da confiança em Deus, do perdão, da indulgência e do respeito nos relacionamentos. A superação da dor de um pai pela perda de sua filha através do encontro com Deus, ou seja, aquele que Mack acusava de ter sido responsável pelo assassinato, senão diretamente, mas pela omissão.


O autor desenvolve o tema de forma, muitas vezes, complicada, pois utiliza uma forma de comunicação tipicamente anglo-saxônica que, quando traduzidas para o português, parecem pouco naturais e muito floreadas, com excessos de adjetivos, o que obriga o leitor a ter que mentalmente separar o que é excesso do que é contexto para entender o que autor propõe.



Alguns temas precisam ser lidos com um cuidado especial, pois, apesar da aparente intenção do autor em desmistificar certos dogmas, ele mesmo os fortalece ao afirmar, por exemplo, a humanidade de Jesus dentro da idéia da santíssima trindade. A todo momento, William Young afirma que Deus (chamado de “papai” pelo protagonista), Jesus e o Espírito Santo são um só. Além disso, confirma a idéia da existência de Adão, colocando como o primeiro homem a ter desejado uma “independência” com relação a Deus e, por isso, ter causado sua expulsão do Jardim do Éden.


A idéia de bem e mal é muito clara ao longo de todo o livro. Os três personagens que caracterizam Deus repetem um discurso que supõe um não julgamento de bem e mal, contudo essa atitude é sempre retratada como a de um ser superior em relação aos filhos que insistem no erro. Essa visão torna a idéia de bem e mal uma dicotomia visível ao longo de toda a estória, onde o que a humanidade escolhe por fazer é sempre ruim se comparado à grandeza e a superioridade divina.


Em um determinado momento, Jesus diz a Mack que “o sistema do mundo é o que é. As instituições, ideologias e todos os esforços vãos e inúteis da humanidade estão em toda parte e é impossível deixar de interagir com tudo isso...” (p. 168).


Entender as leis, as regras, as instituições, entre elas a religião, como algo ruim talvez fosse como destruir todas as formas que a humanidade utilizou ao longo de sua história para conseguir uma forma de administrar as divergências entre as vontades, os desejos e as diversas culturas que permeiam uma mesma sociedade. Mesmo que o objetivo do autor seja uma entrega total e irrestrita ao divino, tal conceito anti-institucionalização parece surpreendentemente revolucionário ou, talvez, excessivamente absurdo.


“... eu posso lhe dar a liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre, seja ele religioso, econômico, social e político. Você terá uma liberdade cada vez maior de estar dentro ou fora de todos os tipos de sistemas e de se mover livremente entre eles. Juntos, você e eu podemos estar dentro do sistema e não fazer parte dele” (p.168).


A cabana é, sem dúvida, uma história de amor onde Deus se coloca como aquele que nos ama independente do que pensemos ou façamos. Nenhuma novidade existe no livro de William Young, entretanto, muitas vezes, nós seres humanos necessitamos da repetição de velhas idéias a fim de ver se conseguimos, finalmente, nos reformar intimamente.


O livro nos relembra que a beleza está no interior de cada um de nós, naquilo que somos e não no que aparentamos; remete-nos à necessidade da confiança em Deus e da resignação diante dos problemas; além de nos mostrar como é tão mais fácil nossa identificação com Jesus por ele também ter sido homem como nós; recorda-nos a influência de nossos sentimentos naqueles que nos cercam e de como as outras pessoas refletem e reagem de acordo com o que nós emanamos para elas; e, principalmente, nos traz novamente a idéia do perdão como a única maneira de entregarmos definitivamente nossa vida ao Divino, confiando em seus desígnios, mesmo quando a dor parece ser insuportável.

Apesar de todo cuidado com o qual deve ser lido, o livro é uma boa pedida para aqueles que não vêem nele um livro religioso, mas sim uma incursão filosófica que pode nos fazer refletir sobre nós mesmos diante de um mundo que parece cruel, mas que, como frisa o autor: não passa de uma “tapeçaria incrivelmente rica e profunda, tecida magistralmente por invisíveis mãos de amor” (p.232).


William P. Young é um autor canadense que passou sua infância em Nova Guiné, em uma comunidade tribal, com os pais missionários. Formou-se em religião nos Estados Unidos e, atualmente, é reconhecido como um autor famoso devido ao sucesso de A cabana.

YOUNG, William P. A cabana. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.
(Alessandra Mayhé)