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terça-feira, 5 de julho de 2011

Autossuficiência e liberdade

“O maior benefício da autossuficiência, é a liberdade”. Epicuro

À primeira vista, essa frase é simples de ser entendida. Basta que pensemos que quando somos autossuficientes, quando temos condições de nos “bancar”, temos maior liberdade de ação. No entanto, tal pensamento começa a entrar em contradição quando vemos pessoas que, apesar de terem muito dinheiro, se sujeitam a certas “conveniências” da vida social, deixando de lado o que são ou o que pensam, para agradarem a outras pessoas e assim manterem seu status social ou sua rede de relacionamentos, a fim de aumentarem seu patrimônio. Portanto, autossuficiência, no caso abordado por Epicuro, não se restringe a “ter” dinheiro ou “ter” condições de se bancar sozinho. A autossuficiência vai mais além da realidade visível e se insere completamente em uma realidade desprezada por muitas pessoas: a realidade da intimidade do próprio ser.

O que te torna autossuficiente? O que te basta?
Essa é uma pergunta que a primeira vista parece fácil de ser respondida, mas pense mais profundamente sobre ela. Comece a enumerar as coisas que te deixariam satisfeito, saciado. Porque a autossuficiência nada mais é do que a capacidade que temos de nos prover a nós mesmos, de nos saciarmos. O problema é descobrir qual o ponto exato, qual o limite dessa saciedade.
Será que o homem que trabalha e recebe X reais por mês, mas que ambiciona receber X+Y reais, é um homem autossuficiente?
Não. Ele não é autossuficiente porque ele não está satisfeito, saciado. E para conseguir ganhar mais, ele abre mão de uma parcela de sua liberdade a fim de se adequar a algum sistema que o proverá nessa busca pelo aumento salarial.
Não estou dizendo com isso que a ambição seja uma coisa ruim. O bem ou o mal são conceitos do homem para tudo aquilo que ele gosta ou deixa de gostar. O bem e o mal está nos olhos de quem vê. Em geral, considera-se que o que nos irrita nos outros, ou o mal que vemos nos outros, é somente aquilo do que não gostamos. Isso implica em dizer que o que o outro faz não é o mais importante, mas sim a maneira como lidamos com isso.
Da mesma maneira, a autossuficiencia não se reflete no ter isso ou aquilo, mas na maneira como enxergamos o que temos. Se o que temos nos basta, somos autossuficientes. E essa autossuficiencia é que será a chave para a nossa liberdade.
Essa liberdade se reflete em atitudes, em ação, em uma forma diferente para lidar com as situações. Quando estamos satisfeitos com nós mesmos e com o que temos, nosso olhar para o mundo também muda, porque se desapega daquilo que nós esperamos que o mundo nos dê. Toda expectativa cria ansiedade, e consequentemente, decepção. Quando estamos repletos interiormente, não esperamos mais nada do exterior, e passamos a agradecer mais e a pedir menos, ou a não pedir nada. As situações que acontecerem em nossas vidas terão uma outra dimensão, pois veremos nelas oportunidades. Aquele que sabe lidar com as dificuldades, aproveita-as para tornar-se mais forte. Aquele que espera sempre, que está sempre ansiando por algo mais, ao defrontar-se com uma situação difícil, ao invés de se fortalecer, escolhe tornar-se vítima das circunstâncias.
Como podemos ver, a idéia da autossuficiencia vai muito além da questão financeira. É um sentimento interno. É algo que somente nós mesmos podemos construir interiormente.
Segundo Lama Surya Das, mestre do budismo tibetano, o caminho para a felicidade, ou seja, o caminho para atingirmos a autossuficiência, é a empatia. Através dela sentiríamos o que o outro sente e isso nos compeliria a ajudar. Ou seja, a empatia levaria à compaixão. E dessa forma, deixaríamos de nos preocupar somente em ganharmos a vida, e passaríamos a construir uma vida com significado e com consciência.
O caminho para a autossuficiencia, portanto, passa necessariamente por dois pontos básicos: o entendimento de que temos o suficiente, o que nos torna agradecidos diante de Deus; e o auxílio ao próximo, o que nos torna desapegados, menos egoístas e mais repletos de conteúdo interno, de significado, de consciência.
Não basta acreditarmos na espiritualidade, é preciso deixarmos que a espiritualidade faça parte das nossas vidas. É preciso que a todo momento nos lembremos de que existe um ser maior, que a tudo provê, e que o que tenho hoje é o que me basta para hoje. Esse é o princípio da auto-educação da mente e do espírito.
A espiritualidade somente será capaz de transformar nossa vida se nos deixarmos envolver nesse processo, se assumirmos a nossa parte nesse trabalho.
Não posso me furtar de mencionar uma frase de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e que inspirou Jerônimo Monteiro quando da criação da bandeira do estado do Espírito Santo: “Trabalha como se tudo dependesse de ti, e confia como se tudo dependesse de Deus”. Não existe autossuficiência sem o entendimento dessa premissa. Não adianta somente aceitarmos o que temos e permanecermos parados, como se devêssemos ficar em estado de agradecimento eterno. Não há maneira melhor de agradecermos ao Criador, senão pelo nosso próprio trabalho de ajuda na manutenção de tudo aquilo que Ele criou. É preciso que façamos a nossa parte, confiando sempre na Espiritualidade. É como um mecanismo de retroalimentação, onde o trabalho alimenta a confiança, e a confiança alimenta e estimula o trabalho.
É preciso, portanto, que compreendamos que não há uma coisa sem a outra. A autossuficiência implica em aliarmos a ação ao coração. Não basta que nos sintamos repletos, se isso não se reflete em nossas ações. Não há alma iluminada, sem ações iluminadas. Não basta confiar, é preciso trabalhar... e vice-versa. É preciso que integremos a espiritualidade em nossas vidas.
“O maior benefício da autossuficiência é a liberdade”, já dizia Epicuro. Ou seja, o maior benefício de estarmos satisfeitos com o que temos, com o que somos, é a liberdade que teremos para continuarmos sendo quem somos em qualquer circunstância. É a liberdade que teremos para sermos fiéis a nós mesmos e a tudo aquilo em que acreditamos. Mas se a liberdade é fruto da autossuficiência, e esta está interligada ao outro na medida em que precisamos da empatia para nos desenvolvermos interiormente, então a nossa liberdade está intrinsicamente ligada à construção da liberdade e da felicidade do outro.
Ser livre, portanto, é nos percebermos interdependentes da humanidade e, através dessa consciência, trabalharmos para a expansão da iluminação e da felicidade humanas.

 (ASM - 05-07-11)
     

Um comentário:

  1. “Trabalha como se tudo dependesse de ti, e confia como se tudo dependesse de Deus”.

    Esse deveria ser o nosso mantra.... O texto é perfeito vida minha.

    Parabéns.

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