As vezes pra gente se descobrir é
necessário que façamos um mergulho dentro de nós mesmos. Isso significa olhar profundamente,
sem se deixar levar pelas aparências.
A autodescoberta talvez seja como
mergulhar em um lago congelado. À primeira vista, a gente só consegue
vislumbrar aquela camada superficial da água que está congelada e, dependendo
da iluminação, até conseguimos vislumbrar o lago abaixo da camada de gelo, no
entanto, é mais provável que vejamos o reflexo do nosso próprio rosto e das
coisas a nossa volta. Ou seja, mesmo que tenhamos a intenção do mergulho,
nossos olhos ainda perceberão somente o exterior, a aparência do que somos.
Talvez seja nesse momento que nos
confundimos, pois imaginamos estar procurando uma solução, uma compreensão mais
profunda, quando na verdade estamos nos deixando enganar pela aparência do
real. O mergulho só poderá ser feito se decidirmos romper com a camada de gelo
que cobre a superfície. Quebrar o gelo e olhar para o fundo é a conseqüência de
uma “decisão” de um “querer”. É preciso “querer” romper a superfície para que
possamos mergulhar em nós mesmos. E romper significa quebrar com algo existente,
modificar a nossa realidade, entender que a partir do momento que optamos pelo
mergulho, nada mais se manterá igual.
Quando procuramos soluções para a
nossa vida é preciso que saibamos qual o tipo de solução que desejamos
encontrar. Soluções poderão ser utilizadas tanto para manter o que já está
estabelecido, como para modificar a realidade. Portanto, antes mesmo de
procurarmos a solução, precisamos saber o que verdadeiramente procuramos.
Quando nós não decidimos, a vida
decide por nós. Dessa forma, o mergulho pode se dar por acaso, por uma
imposição da vida em conseqüência de escolhas feitas anteriormente. Se, em
algum ponto de nossas vidas, a camada de gelo que cobre a superfície estiver
fina, é possível que o gelo se rompa sozinho como conseqüência natural. Ou pode
se dar que ele se rompa devido ao nosso próprio peso, a tudo aquilo que fomos
colocando em nossas costas, escolhas mal feitas, decisões superficiais que
somente mascaram a realidade aumentando a carga que devemos levar no caminho. O
peso das nossas escolhas pode causar um rompimento abrupto da camada congelada,
nos colocando imersos em nós mesmos sem o devido preparo, sem que isso aconteça
como conseqüência de uma decisão consciente do ser.
Descobrir-se, compreender-se,
olhar-se profundamente, pode ser muito mais difícil e doloroso do que muitos
imaginam. Abaixo de uma superfície congelada, existe o lago em forma líquida, mas
com a água em temperaturas que podem ser fatais para o corpo humano. É uma
viagem arriscada e, talvez por isso, seja a viagem que o homem mais posterga ao
longo de sua existência corpórea.
O espírito que decide
enfrentar-se sem máscaras descobre em si mesmo um novo mundo, que pode mudar em
180 graus sua percepção da vida. Nada permanece no lugar após a autodescoberta.
Num jogo de xadrez, para que ocorra o xeque-mate é necessário que o jogador movimente as peças no
tabuleiro, muitas vezes arriscando perdê-las. No entanto, só sairá vencedor
aquele que realmente estiver disposto a jogar, o que implica em conhecer com
profundidade o jogo e as características e funções de cada uma de suas peças. Somente
vencerá aquele que souber observar, que não tiver medo de arriscar, justamente
por ter conhecimento prévio das possíveis conseqüências de cada movimentação
que fizer.
Em suma, para sabermos quem realmente
somos, antes de tudo, é preciso decidir deixar de ser quem pensamos ser.
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